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Arte indiana: uma arte carregada de misticismo

                A arte indiana da época clássica corresponde ao período da dinastia Gupta, fundada no Norte da Índia, por volta de 320, e que durou até 650. Esta dinastia exerceu grande poder político e militar sobre os reis Andhra, acabando com a arte de Amaravati e apoderando-se da antiga capital imperial dos Kushana.
                Foi durante este período que a cultura hindu atingiu o seu apogeu. No que diz respeito à arquitetura, deste período são inúmeras as obras esculpidas na rocha, ou arquitetura rupestre, na continuação da tradição anterior, sendo de destacar as primeiras grutas búdicas descobertas na rocha de Ellora, perto de Bombaim, na qual são visíveis colunatas que separam as naves laterais da central, onde se encontra um stupa (monumento espiritual). Sobre este, uma estátua gigantesca de Buda sentado, ladeado por dois servidores. De salientar a abóbada, que limita as antigas construções de madeira.

                              




               De salientar também as grutas mais recentes de Ajanta, lavradas nos séculos V-VII, onde se encontram obras-primas de escultura e pintura. No que diz respeito às grutas mais importantes de Ajanta, os chaityas, encontram-se elegantes figuras humanas que denotam uma diferente inclinação da cabeça, tronco e pernas.
               Contudo, Ajanta é mais conhecida pelas pinturas murais encontradas nos viharas, onde se encontra o famoso Bodhisattva do loto azul, cuja expressão do rosto, com os olhos semifechados, denota uma calma espiritual e uma certa compaixão pela dor e miséria do mundo.
Nestas pinturas murais é de notar a mistura de sensualidade e ascetismo, característica da arte Gupta.
Os corpos humanos pintados são jovens, com uma certa dose de erotismo, inclinando-se uns sobre os outros.

                             






               As mulheres, esboçando sempre um sorriso, são representadas com um certo bambolear que realça as ancas e o busto, sendo os corpos nus decorados de joias, como é visível nas yakshi de Sanchi e de Bharhut. Porém, todo este naturalismo denota uma preocupação religiosa, em que todas estas figuras fazem parte do misticismo do budismo.O melhor exemplo deste tipo de religiosidade são as figuras de Buda de Sarnath, onde a forma humana é posta ao rubro. 









               Assim, as pregas do manto e drapeado transparente, que caracterizavam as imagens greco-búdicas, desapareceram, dando lugar a uma orla ou relevo em volta do pescoço, onde a expressão ganha mais vida interior. Representadas de frente, com os olhos meio fechados e um leve sorriso nos lábios, estas imagens denotam uma grande serenidade, própria do ideal do budismo.
              Foi durante a época Gupta que apareceram os primeiros exemplares de edifícios propriamente ditos, e não apenas talhados na rocha, onde se destaca o stupa cilíndrico de Dhamek, em Sarnath, e o santuário de Bodh-Gaya construído no Bihar no século IV, no local onde Buda foi iluminado.





              Esta arquitetura desenvolveu-se, a partir do final do século VI e inícios do século VII, porque o antigo bramanismo se impôs ao budismo, isto é, o neobramanismo levou à decadência do budismo na Índia e ao seu desaparecimento.
               Para a celebração do novo culto urgia um novo templo. O santuário onde o brâmane fazia o seu culto tinha de estar separado e isolado dos fiéis. É que o chaitya típico do budismo não servia para a celebração da nova liturgia, que o local onde estava o stupa era rodeado por um deambulatório que os fiéis podiam circular.
                Surgiram, assim, dois tipos de templos que receberam nomes diferentes ou adotaram estilos diferentes, consoante a sua área geográfica. Deste modo, no Norte surgiu o estilo indo-ariano, de planta quadrada, de cobertura alta e em forma de torre, cujos lados se encurvam até ao topo: sikhara. Exemplo: o templo de Lakshmana, em Sirpur, que foi a grande capital do século VII. No Sul surgiu o estilo dravídico.




                        








                Porém, em 650, o império Gupta caiu, devido aos ataques dos Hunos, provocando a fragmentação política de todo o Norte da Índia em reinos independentes. No Sul, outra dinastia nascia, a Chalukya, que se manteria desde cerca de 550 até à sua derrota pelos Rastrakuta (c. 760).
                 Sob a dinastia Chalukya e Rastrakuta, a arte clássica hindu entrou na sua última fase, a fase pós-Gupta que se prolongaria até ao século IX. Os templos mais importantes da dinastia Chalukya encontram-se em Pattadakal. Aqui são visíveis os dois estilos arquitetónicos: o do Norte (exemplo: templo de Papanatha) e o do Sul (exemplo: templo de Virupaksha).
                O primeiro data dos finais do século VII. É constituído por um sikhara. O segundo, construído cerca de 740, é constituído por uma torre (vimana) com um telhado de muitos andares, formando uma pirâmide, que cobre a sala do santuário. Dedicado a Shiva (deus brâmane), o templo encontra-se em perfeita sintonia entre a escultura e as formas arquitetónicas.
                Sob a dinastia Rastrakuta, a arte das grutas talhadas na rocha foi renovada, sendo produzidos dois dos mais belos monumentos do mundo: a gruta da ilha de Elefante, situada na baía de Bombaim, dedicada ao deus Shiva, e o templo de Kailashanatha, em Ellora, datado do século VIII.
                 À época Gupta correspondem também as poesias líricas e fábulas que tiveram grande influência entre os muçulmanos e no Ocidente, destacando-se no teatro Sakuntala, de Kalidasa, considerado o maior dramaturgo e poeta da Índia que tanto influenciou Goethe.



(famoso templo Taj Mahal, construído em Agra, entre o ano de 1630 a 1652)


                           
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